terça-feira, 15 de setembro de 2009

Expandindo o conceito de web 2.0: o trabalho imaterial e o poder do usuário final


Fala-se sobre o conceito de web 2.0 como uma forma de sensibilização de um novo paradigma de interação onde o usuário é co-participante em uma tecnologia que permite a interatividade. Entretanto esta tendência apenas espelha a mesma tendência em outras áreas de produção.

Essa afirmação é melhor compreendida ao contextualizar historicamente a evolução da produção econômica. Segundo Blackwell, Miniard e Engel (2005), nos primórdios das colônias norte americanas até a guerra civil, os traders (uma espécie de atacadista) serviam de ligação entre produtos europeus e o mercado norte americano. Eram esses distribuidores que determinavam o que seria oferecido aos consumidores, se eram vestidos vermelhos ou camisetas verdes ou mesmo barris de açúcar. O consumidor tinha pouca ou nenhuma influência nesse processo.
A manufatura surgiu no século XIX dando início ao poder dos produtores. Esses tinham a incumbência de decidir quais produtos deveriam ser feitos, quais as cores e as embalagens que deveriam ser oferecidas, como deveria ser a propaganda e em quais pontos de varejo. Henry Ford costumava dizer que “o consumidor podia escolher entre um modelo T5 preto e um outro T5 preto”. O cenário apresentado começou a modificar após a Segunda Guerra Mundial, quando o varejo passou a tomar o poder da cadeia de suprimentos. Megavarejistas, como por exemplo o Wal*Mart, não só eram maiores que muitos fabricantes de produtos mas, o mais importante, eles estavam mais próximos dos consumidores. Os varejistas começaram a impor seus pontos de vista sobre o que fabricar, como os produtos deveriam ser embalados, onde deveriam ser estocados, qual seu preço e como deveriam ser vendidos. Os varejistas dominavam a cadeia porque eram a ponte entre a produção e o consumo.

Vivenciamos uma transformação cada vez mais intensa das condições de produção e comercialização de artefatos e o consumidor é participante ativo nesse processo. A empresa pós-industrial, como define Lazzarato & Negri (2001) é fundada sobre o tratamento da informação e, desta forma, estrutura sua estratégia de produção do que encontra no final dessa cadeia de valor: a venda e a relação com o consumidor. Isso implica afirmar que o foco da empresa baseia-se sobre a produção e o consumo de informação e que o consumidor tem grande influência no processo produtivo. Mobilizam-se, então, importantes estratégias de comunicação e de marketing para reaprender a informação (conhecer a tendência de mercado) e fazê-la circular (construir o mercado). Logo, a mercadoria pós-industrial é o resultado de um processo de criação que envolve tanto o produtor quanto o consumidor. Portanto, o processo de gestão da cognição compartilhada torna-se o diferencial competitivo para qualquer tipo de organização.